Páginas

sábado, 14 de agosto de 2010

Ô MANO!!!

Ô mano! Era a expressão mais comum que ele usava. Servia para brincar, servia para saudar, servia para brigar. Era Dentista por circunstância da vida, vendedor por instinto e Diretor por conseqüência. Palmeirense, apaixonado por futebol, que usava para figurar suas falas. Contava casos como se tivesse vivido, na verdade sempre foi um personagem. Usava as crises como oportunidade ou como oportunismo, neste caso as criava. Lembro dele falando – “ô mano, quando estiver dependendo da solução de alguém coloque o bode na sala e jogue as chaves fora, pois quando o bode começar a feder a solução aparece” e ele tinha o sangue frio para fazer isto, perdia algumas ganhava muitas. Naquela época mandava mais que o Presidente da empresa, e é daquela época uma das muitas histórias interessantes do Zé.



Final dos anos 90, a empresa ia muita bem, e freqüentemente fazíamos reuniões de revisão de estratégias e plano orçamentário, eram umas 30 pessoas entre Gerentes Regionais, Distritais e pessoas de Matriz. Quase sempre em um hotel em Atibaia e até hoje desconfio que o que importava naquele hotel não eram as boas salas de reunião e sim o Campo de Futebol, gramado perfeito, todo marcado com cal e o Palmeiras haviam feito pré-temporada ali. Se o campo era o diferencial o mais importante daqueles quatro ou cinco dias eram as peladas do final do dia. Nada podia atrasar para não prejudicar o campeonato entre os Regionais e os Distritais, se no dia seguinte tivéssemos que começar a trabalhar mais cedo ninguém tinha duvidas, mesmo os que não gostavam de futebol. Tudo com o apoio do Zé, afinal ele era o dono da reunião, dono da bola e o dono da camisa 10 do time dos Regionais, mas uma coisa tem que admitir o “excomungado” era bom de bola apesar de já estar uma BOLA. As partidas eram precedidas de muita provocação, na entrada em campo tinha foguetório, que o puxa saco do Vitório, dono do hotel, oferecia. O clima era quente e sempre dava um jogo duro. Para controlar tudo isto tinha o Ézio, um Distrital, boa gente, sistemático, um cara pouco flexível no dia a dia e que naqueles dias incorporava o Juiz, cabelo baixinho, repartido do lado, bigode curto aparado, uniforme preto, cronômetro, apito e muita autoridade. Ele tinha o cuidado de olhar as travas das chuteiras e por vezes reclamava de um uniforme ou outro mal arrumado.



Lá do outro lado do campo o Zé já gritava – “o Mano, vamos parar com esta viadagem e começar logo esta merda”. Depois de alguns minutos, já no segundo tempo, quatro gols, jogo empatado, o Alma, um atacante do time deles, magrinho, ligeiro e malaco, se joga dentro da área e o Ézio da pênalti. É um bate boca sem fim, queríamos matar o Ézio e o desgraçado não se aperta, pega a bola e coloca na marca do pênalti. Para minha surpresa o Zé esta calado, mas era só olhar para ele e ver que o surto é iminente. Enquanto a discussão continua e o Alma se prepara para bater o penalti, o Zé anda firme em direção a bola e da um bico nela e a manda pro brejo que tem do lado do campo e transtornado grita – “ninguém vai bater pênalti aqui...” – mais 1 minuto de silêncio depois daquele bico, todo mundo surpreso, menos o Ézio, ele calmamente pega a outra bola, coloca na marca do pênalti novamente, puxa o cartão vermelho e aponta o outro dedo para fora expulsando o Mano... a surpresa foi tão grande que ele não ousou discutir ou contrariar o Ézio e caminhou de cabeça baixa para o vestiário, sorte do Ézio que no final ganhamos o jogo.

Niterói, 15 de agosto de 2010.

Um comentário:

  1. GRANDE PESSOA, GRANDE SER HUMEANO, GRANDE FLU, ATÉ QUE ENFIM HEIN IVAN!? QUANTO TEMPO NOS CONHECEMOS E PENSEI QUE NÃO IRIA VER SEU TIME CAMPEÂO!!! ABS, ALMA

    ResponderExcluir